quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Efeitos antibacterianos de um novo medicamento - o óleo ozonizado - comparados às pastas de hidróxido de cálcio. PARTE 3 (3/4)


ISSN 00347272
Matéria publicada pela: ozoniobras

Discussão

Todas as espécies bacterianas utilizadas neste experimento têm sido associadas a processos patológicos de origem endodôntica (6,22). A saliva foi utilizada em função de ser composta por uma microbiota mista, representando o que é usualmente encontrado no microambiente endodôntico.
Os resultados do presente trabalho demonstraram que a pasta de hidróxido de caldo com glicerina foi ineficaz contra todas as bactérias testadas. Estes dados corroboram aqueles de estudos prévios (19, 20) e reforçam a necessidade de se associar o hidróxido de caldo a um veículo biologicamente ativo, ou seja, dotado de atividade antimicrobiana.

Por ser uma base forte, o hidróxido de cálcio exerce um efeito letal sobre células bacterianas (17). Entretanto, este efeito é observado apenas quando o hidróxido de caldo entra em contato direto com bactérias, gerando uma concentração de íons hidroxi 1 a máxima que atinge níveis incompatíveis com a sobrevivência bacteriana. Todavia, vários estudos, utilizando o teste de difusão em ágar, demonstraram que pastas de hidróxido de caldo em veículos inertes (água destilada, soro fisiológico, glicerina e outros) foram ineficazes em inibir o crescimento de várias espécies bactéria na anaeróbias estritas e facultativas (2,21).

Para LEONARDO et ai. (5), a pré-incubação das placas com a finalidade de permitir a difusão da pasta de hidróxido de caldo com veículo inerte no meio ágar, por períodos curtos de tempo (aproximadamente 2 horas), assim como a otimização do meio com cloreto de trifenil-tetrazólio (TTC), após o período de incubação, influenciam a leitura dos resultados, possibilitando visualizar a ação antimicrobiana do medicamento. Toda- via, as modificações sugeridas apresentam alguns inconvenientes, os quais a tomam bastante propensa a falhas. A pré-incubação não é, na maioria das vezes, viável, quando se trabalha com bactérias anaeróbias estritas fastidiosas (principais patógenos endodônticos), as quais podem não resistir ao período de pré-incubação, o qual parece curto para bactérias facultativas, mas que, para anaeróbias, usualmente é longo demais, mesmo no interior de um ambiente anaeróbio (jarras ou câmaras), podendo inviabilizar o crescimento após a incubação. Todavia, podemos admitir que, em nosso estudo, um período bem menor de pré-incubação (aproximadamente 30 minutos) pode ter ocorrido, durante o preparo e a manipulação dos medicamentos testados. O cloreto de trifenil-tetrazólio, utilizado na otimização, serve para permitir uma melhor visualização do halo de inibição promovido contra bactérias aeróbias e facultativas. Sua eficácia em relação a bactérias anaeróbias não é comprovada e sua praticidade quando se utiliza ágar-sangue (usualmente utilizado para a maioria dos anaeróbios) é bastante questionável, uma vez que a visualização pode tornar-se difícil.  Além disso, falsos resultados podem advir em virtude da possível reatividade do TTC com componentes dos materiais testados (inclusive substâncias alcalinas, as quais oxidam o TTC, alterando sua cor e provavelmente suas propriedades). A visualização dos halos por microscópio estereoscópico é inquestionavelmente um procedimento muito mais seguro e confiável para a visualização dos bordos do halo de inibição (se presente) ou de colónias bacterianas sobre um halo de difusão (como observado neste estudo para a pasta de hidróxido de cálcio em veículo inerte). A Figura 1 mostra claramente colónias bacterianas crescidas sobre o halo de difusão do hidróxido de cálcio. Outros sim, o teste foi realizado no presente estudo da mesma forma, tradicional- mente utilizada e amplamente difundida na literatura. Assim, o teste de difusão dos materiais em ágar da forma realizada em nosso estudo, mesmo com as limitações inerentes já conhecidas e apesar do risco de extrapolações, parece o mais adequado e suportado pela maioria dos trabalhos publicados na literatura especializada, nacional e internacional.

A pasta de hidróxido de cálcio/TCF/glicerina apresentou discretos halos de inibição de crescimento bacteriano. Estudos têm demonstrado a excelente ação antibacteriana do tricresol formalina (8,16). Este produto, apresenta concentração de formalina em torno de 90%. O outro constituinte é o tricresol, que está em suspensão aquosa na forma de três isômeros do metil-fenol (orto, mera e para). O efeito bactericida da formalina se dá pela ação alquilante sobre proteínas e ácidos nudéicos microbianos, que se caracteriza pela substituição do átomo de hidrogénio de uma hidroxila ou sulfidrila por um radical hidroximetil, causando dano e perda de atividade destas biomoléculas (22). No presente estudo, o tricresol formalina foi diluído em glicerina, na proporção de 1:10, o que propiciou uma concentração de formalina em tomo de 9%. Provavelmente, esta diminuição de concentração de formalina, assim como possíveis reações químicas do tricresol formalina com o hidróxido de cálcio, possam ter contribuí- do para os discretos resultados obtidos.