Mesmo sem regulamentação, médicos defendem terapia com ozônio
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Uma técnica que usa gás ozônio contra infecções, inflamações e dor está
criando polêmica no país. Ao menos 200 médicos estão convencidos da sua
eficácia e a aplicam em várias doenças.
Mas o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) argumentam que o método, chamado ozonioterapia,
não tem amparo científico e, portanto, não pode ser regulamentado.
Nesta semana, um juiz de São Paulo concedeu liminar autorizando um
paciente com câncer de um hospital da capital a receber ozonioterapia no
peritônio (membrana que reveste as paredes do abdome), como parte do
tratamento contra dor.
Há vários estudos na literatura mundial mostrando a eficácia da
ozonioterapia_ embora a maioria não seja controlada e tenha baixo grau
de evidência científica. A terapia é reconhecida pelos sistemas de saúde
de países como Itália, Espanha, Alemanha, Rússia e Cuba.
Os defensores dizem que o método não prospera no país porque contraria
interesses da indústria. "Ozônio não é patenteado. Você não engarrafa e
vende na farmácia", diz a médica Emília Serra, diretora da Aboz
(Associação Brasileira de Ozonioterapia), que tenta há cinco anos
regulamentar a prática no país.
O ozônio medicinal pode ser aplicado na corrente sanguínea na veia ou no reto
ou diretamente na pele (para tratar feridas). Ele estimula a circulação
e a oxigenação de tecidos, com funções bactericida, anti-inflamatória,
imunológica e analgésica, segundo Emília.
No Brasil, várias instituições estão pesquisando a técnica. Em 2010, a
Universidade de São Paulo, por exemplo, testou a ozonioterapia em
bactérias hospitalares multirresistentes a antibióticos. Com apenas
cinco minutos de exposição ao ozônio, dez delas foram eliminadas,
inclusive a superbactéria KPC, que atingiu 13 Estados e matou ao menos
20 pessoas.
Segundo o médico imunologista Glacus de Sousa Brito, pesquisador
responsável pelo ensaio clínico da USP, outras três linhas de projetos
de pesquisa com ozonioterapia estão em andamento.
Uma delas propõe o tratamento de feridas infectadas (pé diabético, por
exemplo). A outra vai usar o ozônio para desinfetar ambientes
hospitalares. A terceira tratará, com o gás, pessoas com infecção
hospitalar.
O infectologista Ésper Kallas, professor da USP, diz que, embora os
estudos pareçam promissores, é preciso repeti-los em outros centros,
para verificar se os resultados permanecem favoráveis. "É necessário
provar a reprodutibilidade para que a gente possa empregar no dia a
dia", afirma ele.
Editoria de Arte / Folhapress/Editoria de Arte / Folhapress | ||
MINISTÉRIO
No fim do ano passado, a ozonioterapia entrou na pauta do Ministério da
Saúde, durante uma audiência pública que recolheu sugestões sobre a
incorporação de novas tecnologias no SUS, para o tratamento de feridas.
A Aboz apresentou vários estudos internacionais defendendo que o uso da
ozonioterapia poderia reduzir em até 25% os custos do SUS com o
tratamento de feridas crônicas e em 80% a taxa de amputação de membros
de pacientes com gangrena provocada pelo diabetes.
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