ISSN 00347272
Matéria
publicada pela: ozoniobras
Discussão
Todas as
espécies bacterianas utilizadas neste experimento têm sido associadas a
processos patológicos de origem endodôntica (6,22). A saliva foi utilizada em
função de ser composta por uma microbiota mista, representando o que é
usualmente encontrado no microambiente endodôntico.
Os resultados
do presente trabalho demonstraram que a pasta de hidróxido de caldo com
glicerina foi ineficaz contra todas as bactérias testadas. Estes dados
corroboram aqueles de estudos prévios (19, 20) e reforçam a necessidade de se
associar o hidróxido de caldo a um veículo biologicamente ativo, ou seja, dotado
de atividade antimicrobiana.
Por ser uma
base forte, o hidróxido de cálcio exerce um efeito letal sobre células
bacterianas (17). Entretanto, este efeito é observado apenas quando o hidróxido
de caldo entra em contato direto com bactérias, gerando uma concentração de
íons hidroxi 1 a máxima que atinge níveis incompatíveis com a sobrevivência bacteriana.
Todavia, vários estudos, utilizando o teste de difusão em ágar, demonstraram
que pastas de hidróxido de caldo em veículos inertes (água destilada, soro
fisiológico, glicerina e outros) foram ineficazes em inibir o crescimento de
várias espécies bactéria na anaeróbias estritas e facultativas (2,21).
Para LEONARDO
et ai. (5), a pré-incubação das placas com a finalidade de permitir a difusão
da pasta de hidróxido de caldo com veículo inerte no meio ágar, por períodos
curtos de tempo (aproximadamente 2 horas), assim como a otimização do meio com cloreto
de trifenil-tetrazólio (TTC), após o período de incubação, influenciam a
leitura dos resultados, possibilitando visualizar a ação antimicrobiana do
medicamento. Toda- via, as modificações sugeridas apresentam alguns
inconvenientes, os quais a tomam bastante propensa a falhas. A pré-incubação
não é, na maioria das vezes, viável, quando se trabalha com bactérias
anaeróbias estritas fastidiosas (principais patógenos endodônticos), as quais
podem não resistir ao período de pré-incubação, o qual parece curto para
bactérias facultativas, mas que, para anaeróbias, usualmente é longo demais,
mesmo no interior de um ambiente anaeróbio (jarras ou câmaras), podendo
inviabilizar o crescimento após a incubação. Todavia, podemos admitir que, em
nosso estudo, um período bem menor de pré-incubação (aproximadamente 30
minutos) pode ter ocorrido, durante o preparo e a manipulação dos medicamentos
testados. O cloreto de trifenil-tetrazólio, utilizado na otimização, serve para
permitir uma melhor visualização do halo de inibição promovido contra bactérias
aeróbias e facultativas. Sua eficácia em relação a bactérias anaeróbias não é
comprovada e sua praticidade quando se utiliza ágar-sangue (usualmente
utilizado para a maioria dos anaeróbios) é bastante questionável, uma vez que a
visualização pode tornar-se difícil.
Além disso, falsos resultados podem advir em virtude da possível
reatividade do TTC com componentes dos materiais testados (inclusive
substâncias alcalinas, as quais oxidam o TTC, alterando sua cor e provavelmente
suas propriedades). A visualização dos halos por microscópio estereoscópico é
inquestionavelmente um procedimento muito mais seguro e confiável para a
visualização dos bordos do halo de inibição (se presente) ou de colónias
bacterianas sobre um halo de difusão (como observado neste estudo para a pasta
de hidróxido de cálcio em veículo inerte). A Figura 1 mostra claramente colónias
bacterianas crescidas sobre o halo de difusão do hidróxido de cálcio. Outros sim,
o teste foi realizado no presente estudo da mesma forma, tradicional- mente
utilizada e amplamente difundida na literatura. Assim, o teste de difusão dos
materiais em ágar da forma realizada em nosso estudo, mesmo com as limitações
inerentes já conhecidas e apesar do risco de extrapolações, parece o mais
adequado e suportado pela maioria dos trabalhos publicados na literatura especializada,
nacional e internacional.
A pasta de
hidróxido de cálcio/TCF/glicerina apresentou discretos halos de inibição de
crescimento bacteriano. Estudos têm demonstrado a excelente ação antibacteriana
do tricresol formalina (8,16). Este produto, apresenta concentração de formalina
em torno de 90%. O outro constituinte é o tricresol, que está em suspensão
aquosa na forma de três isômeros do metil-fenol (orto, mera e para). O efeito
bactericida da formalina se dá pela ação alquilante sobre proteínas e ácidos
nudéicos microbianos, que se caracteriza pela substituição do átomo de
hidrogénio de uma hidroxila ou sulfidrila por um radical hidroximetil, causando
dano e perda de atividade destas biomoléculas (22). No presente estudo, o
tricresol formalina foi diluído em glicerina, na proporção de 1:10, o que propiciou
uma concentração de formalina em tomo de 9%. Provavelmente, esta diminuição de
concentração de formalina, assim como possíveis reações químicas do tricresol
formalina com o hidróxido de cálcio, possam ter contribuí- do para os discretos
resultados obtidos.