26/02/2011 - 08h18 - Folha de S.Paulo
CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO
Uma técnica que usa gás ozônio contra
infecções, inflamações e dor está criando polêmica no país. Ao menos 200
médicos estão convencidos da sua eficácia e a aplicam em várias doenças.
Mas o CFM (Conselho Federal de Medicina)
e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) argumentam que o método,
chamado ozonioterapia, não tem amparo científico e, portanto, não pode ser
regulamentado.
Nesta semana, um juiz de São Paulo
concedeu liminar autorizando um paciente com câncer de um hospital da capital a
receber ozonioterapia no peritônio (membrana que reveste as paredes do abdome),
como parte do tratamento contra dor.
Há vários estudos na literatura mundial
mostrando a eficácia da ozonioterapia_ embora a maioria não seja controlada e
tenha baixo grau de evidência científica. A terapia é reconhecida pelos
sistemas de saúde de países como Itália, Espanha, Alemanha, Rússia e Cuba.
Os defensores dizem que o método não
prospera no país porque contraria interesses da indústria. "Ozônio não é
patenteado. Você não engarrafa e vende na farmácia", diz a médica Emília
Serra, diretora da Aboz (Associação Brasileira de Ozonioterapia), que tenta há
cinco anos regulamentar a prática no país.
O ozônio medicinal pode ser aplicado na
corrente sanguínea na veia ou no reto ou diretamente na pele (para tratar
feridas). Ele estimula a circulação e a oxigenação de tecidos, com funções
bactericida, anti-inflamatória, imunológica e analgésica, segundo Emília.
No Brasil, várias instituições estão
pesquisando a técnica. Em 2010, a Universidade de São Paulo, por exemplo,
testou a ozonioterapia em bactérias hospitalares multirresistentes a
antibióticos. Com apenas cinco minutos de exposição ao ozônio, dez delas foram
eliminadas, inclusive a superbactéria KPC, que atingiu 13 Estados e matou ao
menos 20 pessoas.
Segundo o médico imunologista Glacus de
Sousa Brito, pesquisador responsável pelo ensaio clínico da USP, outras três
linhas de projetos de pesquisa com ozonioterapia estão em andamento.
Uma delas propõe o tratamento de feridas
infectadas (pé diabético, por exemplo). A outra vai usar o ozônio para
desinfetar ambientes hospitalares. A terceira tratará, com o gás, pessoas com
infecção hospitalar.
Editoria de Arte / Folhapress/Editoria
de Arte / Folhapress
MINISTÉRIO
No fim do ano passado, a ozonioterapia
entrou na pauta do Ministério da Saúde, durante uma audiência pública que
recolheu sugestões sobre a incorporação de novas tecnologias no SUS, para o
tratamento de feridas.
A Aboz apresentou vários estudos
internacionais defendendo que o uso da ozonioterapia poderia reduzir em até 25%
os custos do SUS com o tratamento de feridas crônicas e em 80% a taxa de
amputação de membros de pacientes com gangrena provocada pelo diabetes.
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